Muito Prazer eu sou Carol Montelo, designer de moda e estilista e vou te ajudar com essas dúvidas!
Pra começar, o Met Gala é um evento beneficente que tem por objetivo arrecadar fundos para o Costume Institute do MET – Metropolitan Museum of Art (Museu Metropolitano de Arte de Nova York). Anualmente é realizado um baile com temas diversos, em que celebridades são as anfitriãs da noite e artistas convidados mostram seus melhores looks. Como era de se esperar de um evento dessa magnitude, existe um código de vestimenta e cada edição do baile possui o seu tema específico. É nesse momento em que você vê os famosos de Hollyood na mídia usando aqueles trajes que mais parecem obras de arte do que roupas em si.
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Para a grata surpresa da comunidade negra, o MET explora a exposição intitulada “Superfine: Tailoring Black Style” (Impecável: Moldando o Estilo Negro) inspirada no livro “Slaves to Fashion: Black Dandysm and the Styling of Black Diasporic Identity”, de Monica L. Milller – 2009. A exposição traz itens do vestuário masculino, fotografias e pinturas de pessoas negras vestidas conforme o dandismo negro. O código de vestimenta do baile será o “Tailored for you” em tradução livre “Feito Sob Medida Pra Você”, celebrando o estilo, a resistência e a identidade negra, especialmente a masculina.
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Talvez você, caro leitor, se familiarize com o tema escolhido, inspirado no estilo dândi negro (inclusive, recomendo a leitura do livro citado) mas para os alheios, uma breve explicação: dândi negro, nada mais é do que um estilo de se vestir que se originou na Europa, durante o século XVIII, quando foi imposto aos negros uma forma de vestimenta. O objetivo era resistência, sempre ela! O então imperador Napoleão Bonaparte determinou que os negros se vestissem de forma a se distinguirem dos brancos. Porém, sempre em movimento de resistência, a comunidade negra começou a se vestir como os homes ricos e brancos da época, com ternos bem cortados e alinhados, feitos sob medida, com camisas engomadas, coletes e calças justas, plastrons (um lenço amarrado ao pescoço), bengalas, cartolas e sapatos de bico fino. Antes disso, os “escravos de luxo” já se vestiam da mesma forma que seus senhores brancos e ricos, pois eram criados de tal maneira a replicar postura e costumes da monarquia, logo os negros livres adotaram o estilo, se apropriando de todos os elementos e ressignificando as roupas, como forma de protesto.
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Em diversos momentos ao longo da história, o assunto esteve presente, porém se tornou um conceito muito mais elaborado em 1934, com a escritora Zora Neale Hurston, em seu livro “Characteristics of Negro Expression” quando se refere aos homens negros que adotaram o estilo de vida marcados pelas vestimentas alinhadas, elegância e sofisticação. O estilo persiste até os dias atuais, muito mais robustos, trazendo modernidade em suas composições, mesclados com outras influências e variando para o guarda roupa feminino.
Inclusive artistas renomados já resgataram o tema. Como fã de carteirinha do rock n’ roll que sou, preciso citar pelo menos dois personagens brilhantes da cena que fizeram jus ao estilo dândi: Jimi Hendrix e Prince. Ambos estavam sempre vestidos com golas de renda, camisas brancas e bufantes e ternos de veludo. Para Jimi, o lenço se tornou elemento central de seus looks tendo ressignificado seu uso ao vesti-lo na cabeça, ao invés do pescoço, substituindo a bandana que amassaria seu cabelo black power. Para Prince, a postura elegante, mesmo no palco se tornou algo marcante e característico de sua personalidade, além de seus ternos sempre bem estruturados e de tecidos nobres.
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Assim o estilo dândi negro se tornou uma ferramenta para questionar padrões e reafirmar a identidade e a dignidade, desafiando estereótipos raciais como uma forma de protesto contra o racismo. Mais uma vez a moda atuando política e socialmente.
Eu poderia passar horas escrevendo sobre o tema, principalmente sobre os looks dos nossos rockstars, mas preciso retomar o Met Gala! Esse ano, teremos como anfitriões o músico Pharell Williams, o ator Colman Domingo, o piloto de F1 Lewis Hamilton, que diga-se de passagem sempre esteve em destaque quando o assunto é moda e evidenciou em diversas ocasiões o estilo dânde, além de A$AP Rocky e LeBron James, personalidades negras que estão sempre muito próximas do universo da moda, além de Anna Wintour, é claro!
A exposição “Superfine: Tailoring Black Style” ficará disponível para visitação de 06 de maio à 26 de outubro de 2025. Quem puder fazer a visita, garanto que valerá a pena!