Nada melhor do que um mercado inundado com gente que acha que sabe fazer algo humano porque domina técnicas. O ChatGPT passou na OAB, passou em provas de Medicina, mas o cliente depois de experienciar arte ou comunicação medíocre, ele joga fora a porcaria e sempre busca o pesquisador natural, apaixonado. Esse que depende de mergulhar no ofício apenas pra se sentir vivo.
Essa inteligência é capaz de alçar o muito ruim ao aceitável, mas não alça o aceitável a muito bom ou incrível naquilo que depende de humanidade. Desde o ChatGPT, o desespero do cliente em ter algo vivo e real me deu oportunidade de cobrar o dobro. Até partes de meu próprio trabalho, aquelas repetitivas e mecânicas que me tomam tempo criativo eu coloco pras inteligências artificiais fazerem. Amo elas todas. Procuro novas delas todo dia. Até peça de teatro sobre elas já escrevi também, e estarei dirigindo em breve.
O que faz o profissional é PAIXÃO. No final, o que me destaca no mercado é a capacidade de transmitir HUMANIDADE. As inteligências artificiais vão melhorar a humanidade por acidente. Separando quem tem, de quem não tem. To falando de humanidade, ta? Não de inteligência. Vai saber se quem lê é um robô…
Eu particularmente acho que quem está totalmente desesperado pelo surgimento da inteligência artificial ainda não está pensando direito, ou falta informação. As inteligências só conseguem borrar a borda entre amadorismo e profissionalismo,
Muito do desespero em relação às inteligências artificiais tem a ver com o fato de que, com o surgimento delas, o desenvolvimento do profissional não será mais uma alternativa, será compulsório. Repito o mantra: o audiovisual é o lugar do dinamismo, da impermanência, da falta de garantias e do risco. Quer saber? As cosmologias africanas desde muito antes do Cinema, já eram e viviam estes mesmos princípios: dinamismo, impermanência, sem garantias e também o risco, que é uma outra forma de nomear a responsabilidade. Responsabilidade é nada mais nada menos que assumir risco. Assumir a autoria pelo seu sucesso e pelo seu fracasso. É a religião que gosta e afirma a permanência de regras que considera imutáveis, que trabalha com certezas, que terceiriza responsabilidades. As espiritualidades africanas estão configuradas para a fertilidade. Assim também deve ser a arte, assim deve ser o cinema. Buscar garantias e impermanências é acidificar o solo de plantio e torná-lo infértil.
Quanto mais a inteligência artificial se desenvolve, mais cai a barreira econômica na criação de imagens. Sejam elas estáticas ou em movimento, portanto a valorização se dará em cima do que é roteiro autoral e sua adequação à estruturas de storytelling. (dominio da linguagem de comunicação do que se vive o coração)
A barreira caiu, mas será necessário se manter atualizado. Roteiro e Storytelling também só se manterá de pé o que for inigualável. O que foi vivido ou no corpo, ou na sua mente, ou no seu espírito. Já nos pitchings, o player sempre quer saber se você é o ÚNICO no mundo que poderia contar aquela história.
Você é? Se não é, se torne. Pois são essas histórias que serão escolhidas pra ser contadas. Caso não seja, escolherão o mais experiente e que já está debaixo das asas deles mesmo. Você também tem a opção de se tornar um player você mesmo.
Como estão dizendo por aí, o mundo não será dominado por inteligência artificial. Quem dominar essas inteligências é que vai fazer isso. IA’s não vão roubar o seu emprego, quem souber mexer com elas é que vai.