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SOBRE CENOURAS E FALSOS ESPELHOS

EDSON DE SOUZAPor EDSON DE SOUZA12 de abril de 20246 Minutos de Leitura
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Meu objetivo neste texto é trazer reflexões sobre uma necessidade nossa de representatividade, que aos meus olhos muitas vezes parece assumir um papel conflitante a nossa busca por autonomia.

Eu lembro de uma época em que modelos e artistas negros pleitavam através de protestos uma participação maior na mídia hegemônica, uma visibilidade que, além de mostrar a todos os seus talentos únicos, abriria as portas para os seus pares, promovendo equidade. E embora vejamos boa vontade em muitos lugares, esse projeto de sociedade nunca foi pensado para nós, e a espera por esse momento de oportunidades fez o papel do negro único um lugar de privilégio que alimentasse novas esperanças. Há hoje uma participação maior? Sim, porém ainda irrisória frente ao público consumidor. Dados do Instituto Lokomotiva de 2018 dizem que se os consumidores negros formassem um país, seria o 11º país do mundo em população e 17º país em consumo movimentando 1,7 trilhão de reais ao ano. Apesar disso, os negros são sub-representados na comunicação – mais de 90% das campanhas publicitárias têm protagonistas brancos. E mais, 72% dos consumidores negros consideram que as pessoas que aparecem nas propagandas são muito diferentes deles e 82% gostariam de ser mais ouvidos pelas empresas. Os dados são muito relevantes, mas não é a isto que quero me ater.

Recentemente assisti a um dos filmes indicados ao Oscar de melhor filme, Ficção Americana, que está disponível na plataforma Prime Vídeo, e ele me fez refletir o quanto pautas são compradas ou sequestradas e no quanto o que está sendo dado como uma abertura à diversidade e inclusão na mídia faz parte de uma grande campanha, business, e não de uma mudança real de pensamento. Ser antirracista é cool.

Por isso o hype com uma sereia negra em um desenho da Disney precisa ser problematizado, isso embora traga alegria a centenas de crianças negras _ existe uma complexidade a qual nossos pequenos ainda não alcançam. Uma Branca de Neve negra soa mais como uma piada irônica e de mau gosto do que propriamente uma oportunidade de representação para pessoas negras, e todo marketing negativo que advém das trocas de etnia de personagens consagrados ainda é marketing que se faz gratuito na era da internet, e rende bilhões aos acionistas dos grandes grupos de mídia. A pauta da representatividade em prol do antirracismo é cool e gera muita grana. E nem nos deixemos enganar, elas só estão lá porque não incomodam. A Casa Grande de verdade não surta quando a Senzala aprende a ler, não faz diferença, a distância é muito grande. Além de que a Senzala continua fortalecendo as estruturas da Casa Grande, muitas vezes feliz com as migalhas de oportunidade distribuídas por ela, iscas, como na alegoria do burro que puxa uma carroça enquanto o seu dono segura um anzol com uma cenoura na ponta a sua frente.

 

E toda essa ânsia por representatividade gera outros desdobramentos. Comparações apoiadas em simbolismos e recortes que criam o risco de deturpar representações genuínas do que temos.

 

Vou tentar exemplificar essa ideia dentro de um campo que é muito confortável, o das histórias em quadrinhos. Desde os meus seis ou sete anos de idade coleciono revistas em quadrinhos, e já nesta época havia abandonado as da Turma da Mônica, preferia Recruta Zero, Luluzinha e os herois da Marvel, que logo se tornaram minha única preferência. Com isso, eu tive uma felicidade verdadeira quando lançaram o filme Pantera Negra, um dos meus preferidos até hoje, mas um fator externo a ele me incomodou sobremaneira: a comparação entre os personagens T’challa e Killmonger com Martin Luther King e Malcolm X. Essa dicotomia entre os dois sempre me incomodou. Já falei sobre união de negros na coluna passada, pois bem, MLK e Malcolm tinham abordagens diferentes com objetivos semelhantes, isso não os tornava opostos e nem iguais.

Como candomblecista, é impensável para mim, a destruição de signos sagrados, a ameaça aos mais velhos e imaginar que Malcolm faria isso também é algo impensável para mim, o personagem Killmonger fez. Killmonger sacrificou sua companheira em prol de sua missão, e ver pessoas negras o comparando a Malcolm X por conta de duas ou três falas contundentes no filme é constrangedor e me mostra que essas pessoas não conhecem ou não entenderam Malcolm X. Da mesma forma que pensar no personagem T’challa como um arquétipo de MLK por conta de seu comportamento pacifista e se encontrar em um pólo antagônico ao vilão do filme é um entendimento errático, e também indutório.

Esta mesma comparação é feita com recorrência em relação aos  X-Men. Um malabarismo terrível é feito para criar um pareamento entre Charles Xavier com MLK e Magneto com Malcolm X, ao ponto de muitos fãs torcerem pela escalação de Denzel Washington e Jean Carlos Esposito no papel dos personagens em um vindouro filme da Marvel.

Confesso que eu mesmo já li os X-Men dessa maneira. Embora criados no auge da década de 1960 durante a eclosão dos conflitos raciais por direitos civis nos EUA, e a crítica contra o preconceito estar ali, a ideia por trás dos X-Men é a de  jovens com problemas na puberdade sendo bem encaminhados por um professor, jovens que  precisam ser disciplinados para se tornarem úteis à sociedade. E o tom do texto sempre possibilitou o embarque de qualquer categoria social discriminada a sentir-se representada, mas o grupo ali realmente representado são os judeus.

Parear Magneto com Malcolm X é um grande absurdo. O personagem Magneto é supremacista ( coisa de Malcolm nunca foi), terrorista, e de etnia judaica, assim como os seus criadores (Jack Kirby e Stan Lee), e Chris Claremont, o escritor que fundamentou os conceitos aos quais os X-Men até hoje são conhecidos declarou certa vez que a sua inspiração para escrever Magneto foi Menachem Begim, Primeiro Ministro de Israel entre os anos de 1977 e 1988. E no que preze contabilizar os mutantes negros entre os mais de cem personagens da franquia, encontraremos somente nove (e de cabeça muitos vão lembrar somente três, senão só Tempestade).

Minha conclusão nesta reflexão é anti-clímax, eu luto por autonomia, mas entendo a necessidade e a urgência, porém não podemos perseguir esta cenoura para sempre, precisamos conduzir nossas próprias carroças e domar nossas euforias. Podemos voltar a essa discussão no futuro, mas por hora, penso que encerrar com um trecho da música “Abebe Bikila” do rapper BK’ se faz suficiente para ajudar em nossas considerações:

“Pensaram que toda essa merda ao redor ia oprimir/

E é combustível pra correr pelos sonhos/

Lembra que: E se errar igual sempre erramos/

É como o cão que volta o vômito/

Minha terra na guerra, interna/

Entre melhorar isso aqui

Ou tirar a família daqui, yeah”

 

Fontes: http://ilocomotiva.com.br/wp-content/uploads/2022/01/impacto-do-racismo-na-economia.pdf

 

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EDSON DE SOUZA
EDSON DE SOUZA

Ed é um desenhista, escritor, candomblecista e criador de universos e histórias. Sua paixão pelas artes visuais floresceu na infância e, sendo autodidata, desenvolveu traços expressivos inspirados nas comics americanas, representando personagens negros que raramente encontrava na cultura pop. Da arte visual à escrita, o percurso foi natural; as histórias clamavam por serem contadas. As palavras tornaram-se a chave para explorar o inexplorado em si mesmo. Ed criou contos, escreveu um livro, produziu quadrinhos e fanzines, compôs poemas, deixou sua marca em muros com grafites, e também apresentou programas em rádios clandestinas. E em sua jornada, entregou o coração a uma preta escorpiana. Ed de Souza é Graduado em Ciências Sociais, com especialização em Estudos Afro-Brasileiros e Estudos das Cidades, é um crítico da sociabilidade contemporânea, argumentando que todos os caminhos apontam para Alkebulan (África). Para Ed, é essencial mergulhar nas raízes ancestrais, porque o futuro é intrinsecamente ligado ao passado. Sua citação favorita, de Marimba Ani, ressoa profundamente em sua filosofia: "Sua cultura é o seu sistema imunológico."

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