“Não basta ser mulher para compreender a violência de gênero: quando a pele é negra, o fardo é duplo, e o silêncio que cerca nossas dores é ainda mais profundo.”
A frase acima poderia parecer apenas uma provocação, mas é realidade concreta no Brasil. Até porque, quando olhamos para as mulheres negras, existe um recorte específico: são elas que estão na base da pirâmide social e, por isso, sofrem a violência de forma mais intensa e invisibilizada.
Os números confirmam o que já sabemos pela experiência cotidiana: dados do IBGE apontam que as mulheres negras são as que mais sofrem violência doméstica, feminicídio e abuso sexual no país. Não é coincidência. É resultado de um sistema histórico que atravessa racismo, machismo e desigualdade social.

Essa violência não se limita às agressões físicas. Ela se manifesta também na exclusão econômica, na ausência de oportunidades, no preconceito institucional e na dificuldade de acesso a serviços de proteção. A mulher negra, periférica, é a que mais enfrenta barreiras quando busca ajuda: seja pela falta de recursos, pela distância dos serviços públicos, ou pelo racismo estrutural que insiste em desqualificar sua dor.
Mas não falamos aqui da mulher negra como vítima passiva. Falamos de mulheres que, apesar de tudo, erguem comunidades, sustentam famílias, resistem e lutam por espaço político e social. Mulheres que conhecem a geografia da desigualdade e que têm clareza do quanto o território em que vivem influencia diretamente na intensidade das violências que sofrem.
A violência de gênero com recorte racial não é uma pauta só das mulheres negras. É uma questão que envolve toda a sociedade. Precisamos olhar para essa realidade com empatia, entendendo que cada atitude — desde a escuta atenta até a denúncia — pode salvar vidas. Não se trata de um problema “delas”, mas de todos nós. Só com diálogo, solidariedade e compromisso coletivo conseguiremos transformar essa geografia de desigualdade em um novo mapa, onde todas as mulheres possam viver com dignidade e segurança.
Por isso, discutir violência de gênero sem o recorte racial é fechar os olhos para a realidade. Precisamos de políticas públicas específicas, de proteção e de oportunidades, que enxerguem as mulheres negras não apenas como estatística, mas como sujeitos de direito.
Afinal, quando uma sociedade protege suas mulheres mais vulnerabilizadas, ela protege todas. E quando reconhece o protagonismo da mulher negra, abre caminhos para que o combate à violência de gênero seja, de fato, transformador.