Nesta entrevista exclusiva para a revista DBN, ela compartilha momentos marcantes da carreira, fala sobre representatividade, moda como expressão política e o papel de abrir caminhos para outras mulheres negras na mídia. Com um olhar atento e sensível, Basília revela como estilo e jornalismo caminham juntos para fortalecer sua identidade e sua voz em um ambiente ainda marcado por desafios e preconceitos.

Foto: Carlos Sales
Como foi o seu início no jornalismo político? Já imaginava que trabalharia com esse foco?
Desde a faculdade, me interessei pela combinação entre Comunicação e Direito. Sobre explicar de maneira simples tudo o que parecer complexo. Não à toa, no campo profissional sempre busquei simplificar o significado de teses jurídicas, regras sobre o funcionamento da cidade, do país e os movimentos políticos. Na última década, diante de tantas investigações contra políticos, a cobertura Política se aproximou muito da editoria Justiça. Como eu já possuía experiência e conhecimento nessa área, foi mais fácil transitar pela arena política e trazer informações sobre os acordos e articulações que norteiam o país. Ser jornalista de política é algo que define minha vida.
Qual foi a cobertura mais marcante da sua carreira até agora?
Como jornalista, tenho acompanhado de perto os episódios mais importantes do país. Posso destacar a cobertura das manifestações de rua de 2013, que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, como um dos momentos mais importantes desta jornada. Foi uma quebra de paradigma no próprio Jornalismo, com a necessidade de longas transmissões, mudança no espelho de jornais, mudança nas programações de todas mídias para esclarecer aquele momento do país. Eu era repórter na rádio CBN, naquele ano. Certa vez, uma pessoa da minha família me perguntou por telefone o que estava acontecendo no Brasil, qual o motivo daquilo. Foi neste momento que eu senti a importância do Jornalismo, de estar atento para entender, descrever e antecipar movimentos sociais e políticos. A partir de então, cresci muito profissionalmente e, em especial, no caráter analítico. Participei do Fatos e Versões, da Globo News; do Roda Viva, na TV Cultura; dos programas da TV Brasil e também fui da bancada da CNN Brasil.

O que mais te desafia hoje como analista político em um cenário tão polarizado?
O maior desafio negativo é lidar com fake news, desinformação e a agressividade de quem não quer debater. Agora, do ponto de vista de prática desafiadora, mas que agrega, ouvir, no mínimo, os dois lados sobre um mesmo fato me realiza muito como pessoa e profissional. É um desafio difícil, sim. Mas recompensatório.
A moda é uma forma de expressão política pra você? Como você pensa seus looks para o trabalho?
A roupa nos caracteriza, simples ou arrojada; determinada ou romântica; há tantas outras variáveis. É também parte do que a gente comunica e não pode ser vista como algo menos importante na carreira. Porém, deixo essa parte para as profissionais que me acompanham quando o assunto é moda, Thaís Silva e Ray Andrade. Fico com o conteúdo da roupa, que é estudar, apurar, refletir, fico com o Jornalismo. Na hora de me vestir, deixa com quem é da área e sabe, prefiro seguir as dicas de quem entende.
Já sentiu que, como mulher negra, esperam que você se vista ou se comporte de determinada forma no ambiente profissional?
Nestes 18 anos, me tornei uma representante da defesa das pessoas negras, especialmente das mulheres negras, em lugares que condizem com o tanto de dedicação e competência que elas possuem. Meritocracia não é vencer por mérito? Existem inúmeras pessoas negras com mérito para estar em lugares de reconhecido destaque profissional. Quando vemos pouco ou nada de negros representados nestes espaços, o problema definitivamente não está com a gente.
Como você lida com a pressão estética no jornalismo televisivo?
O profissional de TV é literalmente visto pelo informação que traz e a imagem que apresenta. Nem por isso, a imagem pode ser mais importante do que a informação, ainda que exista muita pressão e ataques quanto ao padrão estético vindas de pessoas reais e também perfis fakes na internet. A imagem nunca pode chamar mais atenção do que o conteúdo da informação. Com o tempo, passei a dosar a importância da imagem e a soberania da informação. Vamos todos nos apresentar bem, já que isso também reflete nossa personalidade, mas não podemos nunca achar que uma imagem vale mais do que a capacidade jornalística de apurar, informar e explicar com imparcialidade, técnica e relevância.

Que referências te inspiram na hora de se vestir?
Oprah Winfrey, Thaís Araújo, Luciana Barreto. São mulheres negras que gostam e sabem a moda a seu favor. Seja pelas roupas, cabelo ou maquiagem, elas são ótimas referências, cada uma do seu jeito.
Qual peça ou acessório é indispensável no seu guarda-roupa?
Terceira peça, aquela blusa por cima, jaqueta ou apenas uma echarpe para compor com a roupa mesmo. Acho que combina com tudo, é confortável, e modela bem o corpo.
Você sente que sua imagem tem sido uma forma de abrir caminhos para outras mulheres negras na mídia?
Costumo dizer que a gente não sai de casa para ser referência na resposta aos preconceitos e ataques que a nossa comunidade sofre. Ninguém busca o caos. Desde os 19 anos, sou jornalista e trabalho muito todos os dias. Sou da periferia de Brasília e isso ainda surpreende muita gente. Ouvir “como você chegou tão longe?” é uma mistura de superação com lamento de que muitas pessoas não sobrevivem aos obstáculos e de que eu mesma ainda tenho muitas etapas difíceis para passar. Confio muito na vida.
O que representa pra você estar bem vestida num espaço majoritariamente branco?
Estou vestida da minha ancestralidade, das minhas horas de estudo, da minha convicção em informar, da minha capacidade de ouvir e buscar ser ouvida pelas fontes, pelas pessoas em geral, de amor, respeito e paciência. Estou vestida de subjetividade, símbolos, força e energia. E em cima de tudo isso, vem minha roupa.