Ator vive Doutor Carneiro, médico de Cunegundes, se prepara para a estreia de “Dona Beja”, da HBO, e estreará espetáculo “Os Irmãos Timotheo da Costa”
Luciano Quirino está em um dos seus melhores momentos dos seus quase 40 anos de carreira. Ele encara novos desafios e atua em diferentes frentes. Ele integra o elenco de “Êta Mundo Melhor!” interpretando o Doutor Carneiro, médico de Cunegundes, personagem de Elizabeth Savala.

Quirino comemora poder fazer um personagem em um núcleo cômico, além do sotaque caipira, presente no núcleo da fazenda, ele pode intervir em características físicas para criar o seu Doutor Carneiro.
“Na caracterização adotei um penteado diferenciado, com cachos que lembram um pouco a lã de um carneiro. Também usei enchimentos para deixá-lo mais corpulento, além de trabalhar uma postura específica e incorporar o sotaque caipira, já que a novela se passa no interior, na roça”, complementa Luciano.
O paulista de 59 anos, também é um dos destaques do remake de “Dona Beja”, que estreia em 2026 na HBO Max. Na trama ele interpreta José Carneiro de Mendonça, papel de Jonas Mello na primeira versão de 1986, que vive um casamento infeliz com Josefa, personagem de Thelma de Freitas. Entretanto, Luciano garante que apesar do mesmo personagem, há mudanças na trama, com diferentes atitudes e reações de José.
“Não busquei referência na versão anterior, embora fosse interpretada por um ator que eu admirava muito. Construí o personagem a partir do texto que recebi e, principalmente, do seu conflito, um conflito intenso e central na trama. Trabalhamos para desconstruir completamente a masculinidade tóxica daquele homem de época, ressignificando ele de forma a torná-lo mais contemporâneo. Fiquei muito satisfeito com o resultado desse processo”, conta.
No momento, ele grava o filme original da Netflix baseado no caso Elise Matsunaga, protagonizado por Lorena Comparato, com roteiro de Raphael Montes e Mariana Torres, e direção de Vellas.
Ainda no streaming, Luciano está na série “Galera FC”, que está em fase de pós produção com estreia prevista para 2026.
Outro orgulho do ator é integrar o projeto “Por dentro da sessão”, projeto produzido pela DíadeLab, plataforma de ensino à distância reconhecida por suas produções didáticas inovadoras, onde eles promovem palestras e workshops a partir de cada episódio. A série traz conflitos de grandes personalidades como Frida Kahlo e Oscar Wilde, e agora Lima Barreto, interpretado por Luciano.

“Resgatamos questões vividas por Lima naquela época, incluindo sua relação problemática com a bebida. A proposta é que grupos de psicólogos assistam à série e debatam quais medidas podem ser adotadas, enquanto terapeutas, para lidar com casos semelhantes. Achei a iniciativa muito relevante e, como tenho o propósito de dar visibilidade a histórias negras, participar desse projeto foi especialmente significativo para mim”, comenta.
Nos próximos meses, Quirino estará no espetáculo “Os Irmãos Timotheo da Costa”, dirigido por Luiz Antonio Pilar com texto de Claudia Valli. Ele fará João Timotheo da Costa, um artista negro do século XIX, que, ao lado do irmão Arthur, interpretado por Sergio Kauffmann, ajudou a construir uma trajetória nas belas-artes brasileiras, mesmo em um contexto de enorme preconceito e apagamento histórico.
“É um papel de muita responsabilidade, e é fundamental contar essa história. Os irmãos Timotheo foram artistas de enorme talento e relevância, mas a história os empurrou para a margem. Dar voz a eles hoje é um ato de justiça e também de inspiração para as novas gerações de artistas pretos”, acrescenta o intérprete de João no espetáculo que fará temporada em Brasília, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro.
No teatro, o ator também voltará ao papel de Carlos Gomes, um dos maiores compositores do Brasil, em “Maestro Selvagem”, espetáculo com texto de Miriam Halfim e direção de Ary Coslov, que estreou em 2024, e faz nova temporada em 2026 pelo estado do Rio de Janeiro.
Em seus anos de carreira, Luciano coleciona uma longa trajetória na televisão. Um dos seus trabalhos de maior sucesso, foi a sua primeira novela das 21h, o clássico “Laços de Família”, de Manoel Carlos, onde interpretava Laerte, um médico acupunturista. “É um papel que não era tão comum na época nos anos 2000. Raramente víamos um rosto negro ocupar papéis de prestígio que não estivessem atrelados ao serviço ou à subalternidade. Um médico acupunturista, sócio de uma clínica de estética nesse cenário, era quase uma aparição exótica, quando já deveria ser algo corriqueiro”, conta.

Nos cinemas trabalhou com cineastas como Fernando Meirelles e Hector Babenco.
“Fiz “Domésticas” com o Fernando Meirelles, que me introduziu no cinema, depois trabalhei com o Hector Babenco em “Carandiru”, foram dois trabalhos importantes que me abriram as portas e a partir daí vieram mais convites para cinema. Nesse tempo destaco dois grandes filmes, “Arthur Bispo do Rosário”, um filme importantíssimo, de uma figura emblemática como o Bispo do Rosário, e “Casa de Alice”, que rodou um mundo premiadíssimo com Carla Ribas, muito importante também na minha carreira”, completa.
Para 2026, ele trabalha em dois projetos autorais, um para o cinema e outro para o teatro. Luciano é graduado em cinema e audiovisual. Em 2023, produziu, dirigiu e escreveu, em co-autoria de Luquinha Figueiredo, o documentário “O Triângulo de Tebas”, que fala da importância da Diáspora Africana na Arquitetura do Centro Histórico de São Paulo, o processo de inovação tecnológica e de empreendedorismo negro.
“A relevância desse documentário está em dar visibilidade ao potencial do negro como alguém que projeta, cria, e não somente como força escrava e de mão de obra como é mais conhecido historicamente até hoje”, disse na época do lançamento.