A nossa convidada de hoje é uma referência no jornalismo brasileiro e uma figura central no debate sobre raça e representatividade. Luciana Barreto é Jornalista, editora-chefe, âncora do jornalismo e ativista brasileira com uma carreira marcada pela defesa dos direitos humanos e da igualdade racial. Formada em jornalismo pela PUC-Rio, trabalhou em veículos como Futura, GNT, BandNews, TVE e CNN Brasil. Em 2012, foi premiada pelo Prêmio Nacional de Jornalismo Abdias Nascimento, destacando seu papel no programa “Caminhos da Reportagem – Negros no Brasil: brilho e invisibilidade”. Em 2018, recebeu o prêmio “Sim à Igualdade Racial” pela sua contribuição à mídia.
Eleita pela ONU em 2021 como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, Luciana lançou em 2024 seu primeiro livro, “Discursos de Ódio contra Negros nas Redes Sociais”, o qual foi finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico. Além de jornalista, é mestre em relações étnico-raciais e conselheira de administração, sendo uma figura essencial no debate sobre representatividade e justiça social no Brasil.
Pode nos contar um pouco sobre sua trajetória? Como foi crescer em Nova Iguaçu e estudar na PUC-Rio?
“Vou falar um pouquinho da minha trajetória. Eu sou cria de Nova Iguaçu, não do centro, mas da periferia, uma região muito pobre. Meu pai era motorista de ônibus e minha mãe, dona de casa, fazia várias atividades extras para ajudar nas despesas. Venho de uma família onde ninguém tinha chegado à universidade. Então, a minha ida à PUC foi um marco. Sempre estive envolvida em movimentos sociais e, desde cedo, via o jornalismo como uma ferramenta de poder para visibilizar os problemas e as alegrias das periferias, geralmente associadas a narrativas negativas. Para mim, o jornalismo era uma forma de mobilização. Consegui entrar na PUC com uma bolsa de 100% através de um cursinho pré-vestibular para negros e carentes, e isso mudou o rumo da minha vida.”
Quais foram as principais motivações que te levaram a seguir a carreira no jornalismo, e como o ativismo negro entrou na sua vida?
“Já falei um pouco sobre minhas motivações, mas, na PUC, houve um choque inicial. Eu era a única pessoa negra na minha turma, e isso despertou em mim uma consciência ainda mais forte das questões de raça e classe. Depois, no mercado de trabalho, novamente me vi como a única negra em várias ocasiões. Essa realidade era uma constante reflexão sobre as desigualdades do país, o que me motivou a abraçar o jornalismo como ferramenta de mudança social.”
Como foi sua experiência estudando na PUC-Rio? Você enfrentou algum desafio particular por ser uma mulher negra em um ambiente universitário?
“A experiência na PUC foi mágica e desafiadora. Lidar com um ambiente majoritariamente branco e de classes mais altas fez com que eu revisse muitos preconceitos próprios e ampliasse minha visão de mundo. Lá, construí amizades que até hoje mantenho, e isso trouxe uma visão humanista, algo essencial para o trabalho que desenvolvo hoje.”
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou como jornalista negra?
“Os desafios foram muitos, desde o início como estagiária até hoje. Eu cruzava a cidade para estudar, enfrentava o cansaço e a pobreza. Sempre busquei me destacar pelo esforço, entregando o dobro do esperado, e acho que isso abriu portas para mim. Descobri uma vocação para o jornalismo televisivo, o que, acredito, já estava desenhado para mim. Tudo isso sempre esteve ancorado no ativismo pelos direitos humanos e pela igualdade.”
Como sua identidade e origem influenciam o seu trabalho como jornalista?
“Tudo. A forma como olho para o mundo, como escolho o que é notícia, como entendo o que não é dito. Minha trajetória como mulher negra da periferia é um filtro para o meu trabalho. Tento sair de bolhas e manter um olhar inclusivo, o que considero essencial no jornalismo.”
Quais são as principais questões que você acredita que o movimento negro deve enfrentar atualmente?
“A desigualdade econômica é o primeiro ponto, especialmente em tempos de crise, quando a população negra é a mais afetada. Em segundo lugar, a educação: ainda enfrentamos um abismo educacional enorme. E, por fim, a violência, que atinge de forma desproporcional os jovens negros. Essas são questões urgentes para as políticas públicas.”
Como você vê a representação da população negra nos meios de comunicação brasileiros hoje em dia?
“A televisão brasileira ainda é embranquecida e não representa a diversidade do país. Embora tenha havido avanços, como vimos após o caso de George Floyd, a mídia retrocedeu em alguns pontos. Destaco a Globo, que tem promovido um movimento constante e positivo de inclusão. É um avanço importante.”
Quais são suas maiores inspirações dentro e fora do jornalismo? E no movimento negro?
“Tenho muita admiração pela Glória Maria e por minha amiga Flávia Oliveira. Fora do jornalismo, a escritora Conceição Evaristo é uma referência.”
Mensagem para os Leitores:
“Leia autores negros e indígenas. Procure profissionais negros, amplie sua visão. Isso descoloniza o pensamento e abre novos caminhos de inovação e empatia. Acredito que essa troca é fundamental para uma sociedade mais justa.” – Luciana Barreto (Jornalista)
Reflexão Final
Luciana Barreto deixa uma mensagem poderosa para aqueles que acompanham seu trabalho:
“A necessidade de sairmos das bolhas e construirmos pontes para uma sociedade mais inclusiva.” – Luciana Barreto (Jornalista)
Sua trajetória como jornalista e ativista é uma fonte de inspiração, lembrando-nos da importância de lutar por equidade e diversidade em todos os espaços.