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Analista Judiciário do TJDFT, bacharel em Direito e Administração de Empresas, Ernandes Feitosa é um exemplo vivo de resistência, coragem e representatividade. Homem negro e cego, ele transforma desafios em potência e mostra, com sua trajetória, que a verdadeira beleza está na superação e na autenticidade.
“Minha identidade é marcada pela força e pela resistência. Ser homem negro e cego significa carregar histórias de luta, mas também de superação. É reconhecer as barreiras impostas pela sociedade e, ao mesmo tempo, afirmar minha presença, minha beleza e meu direito de ocupar qualquer espaço”, afirma.
DESAFIOS E SUPERAÇÕES
Enfrentar o racismo e a falta de acessibilidade é uma realidade constante. Ernandes relata que as dificuldades não estão apenas nas barreiras físicas, mas nas invisíveis — as que nascem do preconceito e da desconfiança.
“A deficiência visual é vista muitas vezes como limitação absoluta, e o racismo acrescenta um peso extra, restringindo oportunidades. Já enfrentei exclusão, olhares duros e falta de acesso, mas transformei tudo isso em combustível para seguir em frente.”
A MODA COMO ATO DE LIBERDADE
Para Ernandes, a moda vai além da estética — é uma forma de expressão e resistência.
“A moda me permite mostrar quem eu sou sem precisar de palavras. Quando um homem negro e cego ocupa uma passarela, ele rompe padrões e abre caminhos para outros.”
Sua motivação em participar do Desfile Beleza Negra vem da vontade de provar que a beleza não tem padrão. “Quis mostrar que pessoas negras com deficiência também têm o direito de serem vistas.”
INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE
Ernandes defende que a inclusão na moda precisa ser vivida na prática. “A acessibilidade deve estar em cada detalhe: desde os ensaios, com guias e marcações táteis, até a comunicação clara. A moda só será realmente inclusiva quando permitir que todos participem com autonomia e dignidade.”
CONFIANÇA E PRESENÇA NA PASSARELA
Sem o uso da visão, ele se guia por outros sentidos — audição, memória espacial e percepção corporal. “Caminhar na passarela é um ato de confiança. Eu sinto o espaço, ouço a energia do momento e me entrego.”
REPRESENTATIVIDADE E TRANSFORMAÇÃO
Sobre ser reconhecido no projeto Desfile Beleza Negra, Ernandes é categórico: “É uma vitória pessoal e coletiva. Mostra que corpos como o meu têm valor, têm beleza e têm voz.”
Ele acredita que a moda pode transformar a autoestima de pessoas negras com deficiência. “Quando alguém se vê representado, começa a acreditar mais em si mesmo. A passarela é um espaço de narrativas que curam feridas e fortalecem identidades.”
MENSAGEM E INSPIRAÇÃO
“Não deixem que os padrões impostos limitem seus sonhos. Acreditem no valor que vocês têm e ocupem espaços. Se estamos aqui hoje, é porque alguém abriu caminho antes de nós.”
Entre suas maiores inspirações, Ernandes cita artistas e pessoas que lutaram contra a invisibilidade — especialmente sua mãe do coração, mulher negra, analfabeta e forte, que o ensinou a viver com coragem.
SONHOS E FUTURO
Com o olhar voltado para o futuro, ele sonha em continuar desfilando e transformando a moda em um espaço verdadeiramente inclusivo.
“Quero viver com dignidade, espalhando a mensagem de que todos nós temos beleza e valor.”
Ao final, deixa um convite ao público: “Quero que sintam orgulho e inspiração. Que enxerguem além da deficiência e vejam a arte e a força que existem em mim.”
