A forma, a técnica que convence, frequentemente é boba. Não disse que é fácil, eu disse boba. Por ser boba, leva as pessoas como uma onda. Moral de rebanho. A pura sedução dos sentidos. É engraçadinho? Tem estilo? É bonito(a)? Mexe com meu ego/tesão? Corta meu tédio e minha reflexão? Impede o chamado interno da consciência e do espírito? Poxa. Existem técnicas pra isso. Em síntese, técnicas SÃO isso. Está aí pra provar isso a Neurociência aplicada à otimização da venda de ideias e produtos, que se convencionou chamar de Neuromarketing.
O conteúdo, se não for entregue com musiquinha, paletas de cor harmoniosas, tiradinhas rápidas e divertidas, subcomunicações sexuais… passa batido. No caso do Audiovisual, tem dezenas de leis sobre isso. Ainda vai além, faz parte da apresentação o modo seguro de apresentação. Não gaguejar, não hesitar, não ter estéticas de ruído e/ou imprecisão. Quem foca no conteúdo, mas grita ou chora durante a transmissão disso, perde credibilidade e persuasão.
Não estou dizendo que não é necessário utilizar técnicas de comunicação visual. Jamais diria isso. Porque a rigor, o poder da comunicação está ali na forma. Então fazendo um paralelo, o Roteiro, Direção e Produção de um filme, tem o poder de dizer o caminho a ser tomado, o conteúdo dele. Por outro lado, categorias técnicas como Direção de Arte, Fotografia e Som, dirão SE sua obra será levada a sério. Se ela seduzirá apenas sua mãe e amigos ou se seduzirá uma massa.
Como disse antes o poder tá na técnica de construir aparência. Se falta visão política pra quem domina a técnica, estaremos caminhando na direção errada com histórias que nos violam, exploram e matam, mas se temos tanto conteúdo e somos ignorantes demais em como nos fazer ser ouvidos, se a gente é pouco sedutor à massa, nós simplesmente não temos o que é necessário e NÃO seremos a pessoa certa para este nível de influência. Os cientistas precisam ser mais comunicadores ou os comunicadores precisam ser mais cientistas? Se você não entendeu ainda, a resposta é: nem um, nem outro. Equilíbrio. Vamos encontrar os dois extremos na população e você não deve comprar a camiseta apaixonada de nenhum desses times.
O fato é que a indústria estabelecida, a que detém MUITO dinheiro, detém o poder de determinar quais histórias serão contadas simplesmente porque sabem fazer o som perfeito, a imagem perfeita, a direção de arte perfeita. Visualmente, o cinema mundial está cada vez mais impecável. Já está obsoleto os críticos populares ou especialistas (se bem que os populares incidem mais nesse erro hoje) de querer criticar efeitos CGI ou iluminação, ou direção de arte. Gente, essa fase acabou. Os filmes com muito dinheiro hoje em dia são simplesmente lindos, são raros os que são feios ou com falhas. Um filme feito acima do milhão de reais só é feio se a equipe for muito amadora.
De forma que o que tem faltado na indústria não tem sido essa boa forma, mas conteúdo, que eu ouso dizer inclusive que pretos tem sobrando. O que o povo preto não tem tido, é domínio da forma, talvez porque é exatamente aí que necessita dinheiro. Formação é cara e orçamento para fazer, mesmo com formação é mais cara ainda. Então as histórias dessa galera simplesmente não se convertem para as telas, o que converte é um conteúdo intermediado pelos profissionais já hegemônicos, que pescam nas comunidades pretas algumas novas histórias pra bombar assim que lhes faltam ideias e inspiração. Quando estão saturados.
Há uma delicada margem para melhoramento que pode e deve advir das próprias comunidades pretas. Mais roteiristas e diretores pretos precisam fazer seu nome, e para isso é imprescindível que a arte do roteiro, a storytelling estejam sendo praticadas para se tornar impecáveis, para que se viabilize o abastecimento dessas histórias à uma equipe técnica, a uma produtora e a uma exibidora que vão fazer do seu poder construtivo um mecanismo dessas novas histórias.