Localizado na rua Apa, em São Paulo, o Aparelha Luzia é um tesouro noturno, um espaço cultural vibrante que pulsa desde sua inauguração em abril de 2016. Durante o dia, pode passar despercebido, mas à noite, transforma-se em um centro de atividades, desde rodas de samba até mostras de filmes alternativos. Seu nome evoca os “aparelhos”, apartamentos usados como locais de refúgio durante a ditadura militar, e “Luzia”, o nome do fóssil mais antigo das Américas, datado de 13.000 anos, descoberto em Minas Gerais, com traços negros pré-tráfico de escravos.
Erica Malunguinho, a mente por trás desse quilombo urbano, atraiu inicialmente visitantes por meio de convites pessoais e boca a boca. Hoje, atrai cerca de 500 pessoas por semana, inclusive figuras internacionais como Carl Hart, neurocientista e professor de psicologia e psiquiatria da Universidade Columbia, um dos nomes mais relevantes nas discussões sobre uso e dependência de drogas. Desde sua inauguração, o Aparelha Luzia se tornou um ponto de referência para a comunidade negra e além.
Surpreendentemente, a convivência com moradores de rua nos arredores não afeta negativamente o ambiente do Aparelha Luzia. Pelo contrário, Erica enfatiza a importância da convivência e trocas de experiências com esses grupos marginalizados.
O espaço físico do Aparelha Luzia reflete a pluralidade e criatividade da comunidade negra, com suas paredes adornadas por obras de artistas pretos. Para Érica, este é mais do que um espaço cultural; é um local de resistência política e afirmação de identidade.
Erica Malunguinho, mulher trans, e uma voz incansável na luta pela representatividade negra na política, e que desenha, pinta, fotografa, performa e é ex-deputada estadual, entre outros, destaca a necessidade de pessoas negras ocuparem posições de poder em todos os níveis institucionais.
O Aparelha Luzia, reflexo de sua personalidade, oferece um espaço de expressão e debate para a comunidade negra, abordando uma ampla gama de temas através de exposições, shows e eventos culturais. Em suas próprias palavras, é um lugar onde “a gente pode simplesmente ser e escrever nossas narrativas em um lugar de encontro e de existência”.